segunda-feira, 29 de novembro de 2010

. Não quem sou, mas quem estou

Se mulher, versão 1,60m acima do peso, cabelos pelo ombro quimicamente modificados junto de uma franja charmosa. Muitas palavras na boca, um fígado trincado, pés inquietos por novos lugares. Roupas fora da moda, qualquer uma que ainda mantenha em liberdade os movimentos. Sou falsa e adoro falso moralismo. Amigos que ficam, foram e os que chegam. Amo qualquer um que me pague uma boa cerveja e troque meia dúzia de palavras. O coração pulsa e os segundos correm.


Se homem, versão 1,80m-e-todos, moreno, alto, bonito e sensual. Brilhantes olhos esmagadinhos, um sorriso iluminado. Da descendência indígena, cabelos jogados a própria sorte e todo charme-sedução para organizá-los. Um skate no pé, sem fé para remar. Idéias... todas nas minhas mãos que transpiram de ansiedade. Um copo, um som, um filtro vermelho para tragar. Mentirinhas pela noite inteira só para encantar.


Se hermafrodita, a junção dos filhos de Hermes e Afrodite, amor. Sempre uma nova história para contar regada a gelados copos entre corpos emaranhados. Sonhos todos para fantasiar: uma casa, um lar, crianças porretas e revolucionárias. A mamadeira de leite em pó misturada com a cerveja na geladeira. O professor do Kama Sutra para a terceira idade e a velhinha de cabelos longos naturalista. Em estado de êxtase eterno.

sábado, 19 de junho de 2010

Até a próxima, Saramago.

Triste só sentir de fato a intensidade de um MESTRE quando ele se vai. Meu contato não foi diferente com Saramago. Seus livros tão deliciosamente instigantes me deram medo de começar ao menos um, de uma coleção que tenho em casa. Medo! Essa é a sensação clara quando penso nas mais de 500 páginas da sua literatura. Medo de ler? Preguiça? Não! Medo de deixar que todo meu interior se voltasse a um passado ideológico tão meu, tão dele, tão de todos nós se existisse o bem comum capaz de acolher todas as formas de vida nessa “Pátria amada, Brasil!”.

De fato é a hora certa de abrir o seu livro, controlando o frio que dá na barriga, mas é o momento. Quem sabe algumas respostas pelas quais sempre procurei estivessem ali, paradas no móvel da sala me convidando a encontrá-las?

Dos filmes, a projeção de que todos vivemos um “Ensaio sobre a cegueira” comovente, mas que não abre na cabeça das pessoas uma reflexão sobre suas vidinhas pacatas, nem na minha abriu... Sentiu o medo?

E de todas as declaradas palavras sonoras, grafadas, proferidas à Pilar, um pedaço da sua amorosa intimidade “José e Pilar” em novembro.

Português, jornalista, comunista, ateu. Letrista, Nobel. Nasceu, viveu, morreu. Lá se foi grafar mais linhas de conhecimento pelos vagos espaços da matéria. Começar no céu o que nunca a Terra experimentou: o amor em todas as suas formas.

Pensar, pensar

Junho 18, 2010 por Fundação José Saramago

Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de refexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, nao vamos a parte nenhuma.

Revista do Expresso, Portugal (entrevista), 11 de Outubro de 2008

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Rotina

Aqui é um espaço breve
do que foi e do que pode acontecer

Eu fumo o meu e você o seu
e a maré de gente lá fora
nem se dá conta de você e eu...

Enquanto muitas luzes apagadas estão prestes a iluminar mais um dia,
minha madrugada anuncia
o anúncio de mais uma rotina

Aqui se faz e aqui se apaga
O dia-noite-amanhã-madrugada
apenas mais um sorriso irá me dizer.